domingo, 23 de setembro de 2007

Com que roupa? - Vange Leonel

"Você é lady ou sapatão?". Era Assim que começava uma abordagem clássica nos bares lésbicos mais populares de São Paulo, no final dos anos 1970. Grande parte das garotas homossexuais procurava se encaixar num desses dois esteriótipos: esconlhendo vestir-se e portar-se omo lady , cabelos compridos, roupas femininas e maquiagem, ou então preferindo o outro lado, usando roupas masculinas, camisa social, calça de tergal e cabelos curtos.
Confesso que a primeira ve zque me perguntaram es eeu era lady ou sapatão eu naõ soube resonder. Foi na mesma noite em que conheci uma garota, muita bonita e de cabelos compridos, e que dividiu comingo sua grande angústia: ela adorava seus longos cabelos, mas as amigas fanchonas insistiam para que ela passasse uma tesoura - se ela era sapatona deveria usá-los curtos, diziam.
Vestir-se como homem e adotar menerismos masculinos já é coisa bastante antiga. Joana D´Arc teve de cortar os cabelos e vestir-se como soldado para poder comandar suas tropas na batalha de Orleans contra os ingleses. Há mesmo rumores de que, por volta do ano 855 d. C., foi coroado um papa que na verdad era uma mulher - a papisa Joana - que também se vestia como homem para driblar os impedimentos da igreja quanto às mulheres que almejam o sacerdócio.
Mais recetemente, na metade do século passado, a escritor aAurore Dupin encontrou a liberdade ao deixar o marido para viver sozinha em paris. Vestia-se com roupas masculinas, fumava charuto, acreditava na igualdade entre os sexos e resolveu adotar para si o nome George Sand, com o qual assinava seus romances.
Na América dos anos 1950, as primeiras militantes lésbicas acusavam as sapatonas de pôr mais lenha na fogueira do preconceito, pois faziam com que a sociedade tivesse uma idéia muito esteriotipada e distorcida do que era a homossexualidade feminina. Não parece muito diferente do que acontece hoje em dia. Lamentavelmente, existe uma certa resistência, mesmo no meio homossexual, às lésbicas mais masculinizadas, como se existisse uma cartilha a ser seguida. Será que aquele tão valorizado "express yourself" já não vale mais nada?
Foi grande a controvérsia causada quando, no começo da décasa de 1990, as drag kings vieram à tona e se tornaram mais visíveis, principalmente nos Estados Unidos e na Inglaterra. A fotógrafa lésbica californiana Della Grace, espoente máximo dessa turma, chegou a editar um livro de ensaios fotográficos. Love bites, no qual mostrava muitas drag kings, casais de garotas masculinizadas praticando atos de penetração com dildos e cenas de sadomasoquismo. O livro foi boicotado mesmo nas livrarias dedicadas à comuniade homossexual e Della Grace pôs a boca no mundo, reclamando que o movimento gay queria continuar deixando essas garotas na invisibilidade. Della Grace agora chama-se Del Grace e assumiu uma identidade andrógina, nem macho, nem fêmea.
A liberdade de ser o que se é não pode ser conquistada pela metade. Se lésbica e gays lutam por maior visibilidae, não devem patrulhar a livre expresão de seus pares. Se Del e sua turma gostam de aplicar esparadrapinhos com hormônios masculinos no queixo para deixar a barba crescer, o que os outros têm com isso?
O travestismo é algo tradicional e fundamental em várias culturas, com forte importâcia ritual. Na Grécia antiga, era comum raspar a cabeça e aplicar barba postiça nas mulheres recém-casadas até que elas ficassem grávidas. Pajés de tribos norte-americanas vestiam-se de mulher, garotas de tribos africanas faziam sua iniciaçã o na puberdade usando roupas de homens e em algumas ilhas da ndonéisa era comum travestir crianças doentes para que fossem curadas.
Ora se tantos atos de cura e rituais de passaem estão relacionadas ao travestismo, por que querer que as pessoas sigam um padrão de vestimenta e comportameento tão carreta, tão quadrado e tão uniforme?
A fantasia é direito inexpunável dae cada um. Mesmo não sendo lady, nem sapatao, nem drag king, nem lesbian chic, é direito de uma mulher esr o tipo que ela quiser, vestir a roupa que preferir e até mesmo ser tudo isso junto ou de um jeito diferente a cada dia da semana.
Ruim é ter que se cmportar segundo uma cartilha politicamente correta, mesmo sendo ela ditada por um ativismo gay pretensamente consensual, mas na verdade careta e estreito. A liberdade e a visibilidade são para aas borboletas, para os lacinhos cor-de-rosa e também para os sapatões.
Fotnte: Grrrls: Garotas Iradas. Vange Leonel

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

O Despertar da Borboleta

Este resumo não está disponível. Clique aqui para ver a postagem.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

A territorização da homofobia.


por Leyse da Cruz -
O Fantástico exibiu em (12/08/07), o caso de um jogador do São Paulo Futebol Clube, que durante uma partida pelo brasileirão, comemorou o gol fazendo a“dança da bundinha”, gesto que gerou tamanho transtorno.
Deixando de lado as opiniões sobre as mais variadas formas de comemoração de gols, proponho-me aqui debater sobre a questão que faz deste comum gesto, uma polêmica ou um explícito caso de homofobia. Este fatídico caso atraiu-me a atenção por causa de três personagens. 1º personagem o jogador, 2ª personagem o dirigente do time, 3º personagem o Juiz da 9ª vara criminal. A polêmica se iniciou a partir da entrevista do dirigente do clube a um programa de esporte, que no decorrer da sua entrevista disse que o jogador era Gay. Tal ato teve como reposta do jogador, a abertura de uma queixa crime contra o dirigente do time, que a princípio, o repreendia pelo suposto ato de calúnia. Ao ser aberto o caso, o Juiz da 9ª vara criminal arquivou o processo alegando com suas palavras que “futebol é varonil, viril e não para homossexuais” , em continuidade a ação, ele afirma que um homossexual no futebol prejudicaria a uniformidade e o ideal do time.
De acordo com a pesquisa realizada pela Unesco em 2004 com estudantes, pais e professores, cerca de ¼ dos alunos não gostariam de ter um colega de sala homossexual. Ainda segundo a mesma pesquisa feita em 14 capitais, 22% dos professores entendiam a homossexualidade como doença. Embora desde 1985 a homossexualidade tenha sido retirada da lista de doenças da Organização Mundial de Saúde. Segundo a pesquisa, um terço dos pais ouvidos não dialogam com os adolescentes sobre o tema e muitos deles não gostariam que homossexuais fossem colegas de classe de seus filhos: 22% (em Porto Alegre) a 48% (em Fortaleza).
Nessa pesquisa foram entrevistadas 155.604 pessoas. A pesquisa revela que os próprios entrevistados afirmam não saber lidar com o assunto, a homossexualidade. O que me atrai a atenção é que poucas pessoas assumem o preconceito, mas mesmo assim, continuam dizendo frases como: “Eu não sou homossexual, mas não tenho nada contra...” ou “se ele é gay o problema é dele, ninguém tem nada a ver com a vida dele...”.
Seria possível dizer que essas frases se tornaram cotidianas na vida social ou elas verdadeiramente mascaram uma resistência homofóbica cada vez mais intolerante aos homossexuais? Podemos concordar que algumas conquistas foram pautadas a favor da diversidade sexual, mas qual será a real questão dos contínuos casos explícitos de homofobia?
Intriga-me saber que os homofóbicos sabem que esse ato é crime de acordo com o Art. 1º do Código Penal que retrata “a qualquer pessoa jurídica que por seus agentes, empregados, dirigentes, propaganda ou qualquer outro meio, promoverem e permitirem ou concorrerem para a discriminação de pessoas em virtude de sua orientação sexual e para estas pessoas serão aplicadas às sanções previstas nesta Lei”. Com base nesses levantamentos, retorno ao caso do jogador, que por diversas vezes em programa televisivo precisou suplicar a piedade da Nação afirmando que não é gay. Não se trata aqui de travar a discurssão em cima do ser ou não ser, mas sim, de discutir que tipo de perdão social é esse que se exige dos homossexuais. Se o jogador afirmar que é um legítimo macho estará perdoado da sua condenação e assim poderá dar continuidade a sua carreira como atleta? E, no entanto, qual será sua penitência em afirmar que é um homossexual?
Não se trata apenas de um término de carreira futebolística para um homossexual, mas de reconhecer que os territórios estão demarcados, que os espaços para heterossexuais não permitem a existência de homossexuais. Revelando um verdadeiro e velado apartheid sexual, sendo passível nesses locais as perseguições, assassinatos ou uma incessante caça aos homossexuais. A homofobia é um termo criado para identificar o ódio, aversão e a discriminação de uma pessoa contra homossexuais e a homossexualidade. Hoje a homofobia tem sido responsável por 2.403 assassinatos de gays, lésbicas e travestis e os traumas tem levado além desses grupos, os bissexuais, transexuais, pansexuais, metrossexuais, transgênero, aos altos índices de depressão, suicídio, fobias, isolamento social, uso indiscriminado de drogas, dentre outros, de acordo com o relatório apresentado pelo Grupo Gay da Bahia nos últimos 20 anos (fonte: Grupo Gay da Bahia).
Tratando-se de um período de 20 anos, podemos considerar que a extensão desse conflito está levando pessoas a serem mortas de maneira violenta e até sofrerem traumas psicológicos pela simples razão de manifestarem algum desejo sexual que difere da imposição da maioria.
Busco identificar as motivações que levou o dirigente do Palmeiras, neste caso, a afirmar que o jogador era gay. Em sua declaração no programa de esporte é possível suspeitar que o dirigente estaria se apegando ao gesto cometido pelo jogador no momento em que ele marcou o gol. Não irei me prender em discutir se o gesto é ou não duvidoso, até porque seria complexo identificar o que é ou não um gesto duvidoso. Mas chamo a atenção, para a regulação que se impõem aos homossexuais que perpassa até na forma do ser enquanto homem. Algumas frases também me prendem a atenção quando ouço “Ah... ele pode até ser gay, mas não precisa ser afeminado...” frases estas ditas também as mulheres homossexuais.
Podemos tentar identificar quais seriam as reais motivações que levou o dirigente a dizer que o jogador era Gay, uma delas como foi ventilado, seria a recusa do jogador em assinar o contrato com o Palmeiras. Mas sobre todas as hipóteses, podemos concluir que ao querer atacar alguém é só dizer que este alguém é Gay.
Esta tenebrosa palavra é capaz da causar grande impacto, mais que dizer que Renan Calheiros é sonegador de imposto e estar envolvido com lobista ou até mesmo que Paulo Hartung envia 150 policiais ao norte para retirar os quilombolas de suas terras em Linharinho. Gostaria de discutir por fim o terceiro personagem desta fatídica história, o Juiz da 9ª vara criminal, que ao final dos seus dizeres arquiva o processo sentenciando que “....O caso é insignificante perto da grandeza que é o futebol brasileiro”.
Juiz esse, intitulado um representante público do Poder Judiciário cujo papel é controlar e fazer cumprir a constituição. Concordo com o presidente dos magistrados que declarou que este juiz deveria passar por uma reciclagem, e se nos apegarmos ao sentido literal da palavra reciclar, pergunto, será que isso cabe ao juiz da 9 ª Vara Criminal? Mas precisamos fazer valer a lei, este juiz precisa responder de acordo com o que está previsto na lei de combate a homofobia. A territorização da homofobia se caracteriza desta maneira, bruta e segregadora, a exemplo do acontecido.
Mas, em quantos lugares o homossexual não é engolido e sua presença passa a ser um ponto de pressão para sua retirada, com direito a um singelo e frio “Por Favor, se retire, e um não volte sempre ....! Encerro este ensaio na tentativa de buscar interpretar as reais motivações para a existência da homofobia, não se trata apenas da mudança de comportamento ou uma constatação de mais um caso, mas sim de tentar compreender quais são os verdadeiros riscos para a conquista plena dos direitos homossexuais.
Será que esta conquista colocaria em xeque a própria divisão binária entre ser mulher e ser homem, que ignora a existência de qualquer outro tipo de identidade física, humana e sexual existente entre estas duas distinções de gênero? Ou será que essas conquistas podem significar a existência de uma luta antagônica em relação à legitimidade da ordem patriarcal, à ordem imposta pela doutrina religiosa ou para a sociedade industrial, que preserva a manutenção da exploração do trabalho humano, a partir do sexo e da diferenciação do salário. Ou talvez, o epicentro da resistência homofóbica possa se encontrar no Estado, no papel de um Juiz como este, de um deputado ao votar contra a realização de sessões solenes aos grupos GLBT, e no Governo Executivo que age a passo lento, ignorando o verdadeiro conflito ou interesse que existe nesta recriminação sexual manifestada de maneira bruta e constante.

Leyse da Cruz é cientista social

Fonte - Revista Caros Amigos

sábado, 15 de setembro de 2007

Conhecer e poder


Brasil sem Homofobia


O Programa Brasil sem Homofobia foi lançado em 2004, a partir de uma série de discussões entre o Governo Federal e a sociedade civil, com o intuito de promover a cidadania de gays, lésbicas, travestis, transgêneros e bissexuais, a partir da equiparação de direitos e do combate à violência e à discriminação homofóbicas.

O Programa é constituído de diferentes ações voltadas para:

a) apoio a projetos de fortalecimento de instituições públicas e não-governamentais que atuam na promoção da cidadania homossexual e/ou no combate à homofobia;
b) capacitação de profissionais e representantes do movimento homossexual que atuam na defesa de direitos humanos;
c) disseminação de informações sobre direitos, de promoção da auto-estima homossexual; incentivo à denúncia de violações dos direitos humanos do segmento GLTB.

A Secretaria Especial de Direitos Humanos é o órgão responsável por coordenar as diversas ações desenvolvidas para atingir os objetivos do Programa. São ações de capacitação e desenvolvimento, apoio a projetos de governos estaduais, municipais e organizações não-governamentais e implantação de centros de referência para combate a homofobia no país inteiro.

O Programa mostra à sociedade brasileira que, enquanto existirem cidadãos cujos direitos fundamentais não sejam respeitados em razão de discriminação por orientação sexual, raça, etnia, idade, credo religioso ou opinião política, não se poderá afirmar que a sociedade brasileira seja justa, igualitária, democrática e tolerante. E o Programa busca contribuir para a construção de uma cultura de paz.

Mais informações e contato, ligue (61) 3429-3475 / 3429-3671

Para conhecer o Programa veja:

» Brasil sem Homofobia (pdf)

Fonte: http://www.presidencia.gov.br/estrutura_presidencia/sedh/brasilsem/

domingo, 9 de setembro de 2007

Muito Além da Alcova - Vangue Leonel







Um dos argumentos mais usados por gays e lésbicas que não querem sair do armário é a frase: "O que eu faço entre as quatro paredes do meu quarto não é da conta de ninguém". Ok eu concordo. Eu mesma não saio por aí falando que prefiro 69, firt funcking ou stip-tease para me excitar durante as preliminares. Mas memso que eu não revele meus segredos de alcova, nada impede que eu deixe claro que gosto de namorar garotas.






O que acontece é que algumas pessoas ainda encaram o relacionamenteo homo algo pura e exclusivamente da alçada sexual, esquecendo-se de que existe um mundo fora das quatro paredes do seu próprio quarto. Pensando dessa maneira, essas pessoas vivem plenamente a sua vida homossexual dentro de casa, dentro dos bares gays e do gueto e, como sua vida "sexual" não interessa a mais ninguém. não vêem necessidade de tornar visíveis a sua orientação sexual e a sua expressão homoerótica e afetiva.






O que muita gente esquece quando usa esse argumento é de que gays e lésbicas são, além de homossexuais, seres sociais. Insistindo na tese de que a homossexualidade é uma questão de foro íntimo, reforça-se mais um preconceito: o de que gays e lésbicas só pensam em sexo, cama, orgasmos e suspiros. Ou seja, coloca-se a transa homossexual como algo que não sai do quart e que não vai para a sala de visitas. Pois saibam que essa é mais uma das manobras silenciosamente orquestradas pelo hetero-partriarcado para privar gays e lésbicas de um poder extraordinário: o poder de expressar socialmente o seu amor.
Hoje em dia a sociedade reserva áreas específicas para que gays e lésbicas possam expressar publicamente seu afeto - bares onde podem se encontrar para exercitar o seu poder de sedução. Isso não soa um pouco como um apartheid? Não se parece também com os Estados Unidos doa anos de 1950, quando os negros tinham que se sentar na parte de trás dos ônibus para não se misturar com a população branca?



A maioria dos gys e lésbicas do nosso país, no entanto, ainda prefere viver segregada. A facilidade que o gay te para esconder a orientção sexual da família, no ambiente de trabalho e no espaço público faz com que exista uma falsa impressão de que é plenamente acolhido pela sociedade, quando de fato esse abrigo é bem meia-boca: tudo bem, pode ser lésica, mas não beije sua namoada num shopping center...



Você pode achar que passa a sua vida numa boa sem beijar sua queridona num shopping, mas isso é, sim, segregação. A ocupação do espaço público é impotantíssima para qualquer pessoa. É em público que enxontramos os outros cidadãos que compõem nossa sociedade e, se queremos fazer qualquer coisa na vida que não seja entre as quatro paredes do nosso quarto é no espaço público que iremos trabalhar para melhorar, entreter e transformar o mundo à nossa volta.



Por isso é necessário que os homossexuais ocupem o espaço público de maniera honesta e franca, porque se deixarmos todo nosso poder de sedução trancado no armário, além de parecermos tolos, mal amados e assexuados, estaremos privando a sociedade da nossa valiosa contribuição como cidadãos. Um gay que atua publicamente sem poder manifestar o seu homoerotismo estará atuando pela metada, pois falar em alto e bom som que se ama e a quem se ama é um dos mais poderosos gritos de guerra jamais inventados. O hetero-patriarcado é mestre na glorificação das suas expressões amorosas: do romance entre César e Cleópatra até a incrível paixão de Rose e Jack no filme Titanic, a expressão amorosa heterossexual sempre serviu como mola propulsora, arma e estímulo para heróis que conquistaram impérios e transformaram o mundo sempre.



Ora, se a expressão amorosa tem tanto poder assim, porque vamos deixar de expressar o nosso amor publicamente? Não estaria mais do que na hora de tirar o amor homossexual de dentro das quatro paredes e apresentá-lo finalmente à sala de visitas? Quem levará a melhor se continuarmos dentro do armário? Com certeza, aqueles que têm problemas quando vêem dois homens se beijando. Quem fica do lado de dentro só ganha mesmo a companhia nada agradável das traças e dos cabides.



Pois então, para aquelas que dizem "o que faço entra as quatro paredes do meu quarto não é da conta de ninguém", eu respondo que certamente não é da minha conta se você prefere dedos ou dildos. Mas que isso não a impeça de sair de mãos dadas com a sua namorada num shopping center e que isso não seja argumento para você deixar de ocupar o espaço público com as suas expressões homoafetivas.



Não esqueça nunca que a manifestação do seu amor é uma das coisas mais divinas que você pode usar. Não a exercite somente no quarto, em casa, nos bares e no gueto. Não deixe a sua expressão amorosa morrer na praia, no trabalho o na sala de jantar da su afamília. Expresse o seu homoerotismo e seja feliz. O mundo agradece.
Fonte: Grrrls: Gatoras Iradas - Vangue Leonel-2001












GUDDS - UFMG



Nasceu na UFMG( Univ. Federal de Minas Gerais) o Grupo Universitário em Defesa da Diversidade Sexual ( GUDDS) no dia 05/09/2007. Espaço de cidadania que visa cultivar a diversidade com a liberdade que merece no espaço acadêmico.

Para quem quiser conhecer mais: http://br.groups.yahoo.com/group/diversidadesexualufmg/

A gente cultiva a liberdade com diversidade...

Tanto não!!!

1- não podem casar
2- não têm reconhecida a união estável
3- não adotam sobrenome do parceiro
4- não podem somar renda para aprovar financiamentos
5- não somam renda para alugar imóvel
6- não inscrevem parceiro como dependente de servidor público
7- não podem incluir parceiros como dependentes no plano de saúde
8- não participam de programas do Estado vinculados à família
9- não inscrevem parceiros como dependentes da previdência
10- não podem acompanhar o parceiro servidor público transferido
11- não têm a impenhorabilidade do imóvel em que o casal reside
12- não têm garantia de pensão alimentícia em caso de separação
13- não têm garantia à metade dos bens em caso de separação
14- não podem assumir a guarda do filho do cônjuge
15- não adotam filhos em conjunto
16- não podem adotar o filho do parceiro
17- não têm licença-maternidade para nascimento de filho da parceira
18- não têm licença maternidade/ paternidade se o parceiro adota filho
19- não recebem abono-família
20- não têm licença-luto, para faltar ao trabalho na morte do parceiro
21- não recebem auxílio-funeral
22- não podem ser inventariantes do parceiro falecido
23- não têm direito à herança
24- não têm garantida a permanência no lar quando o parceiro morre
25- não têm usufruto dos bens do parceiro
26- não podem alegar dano moral se o parceiro for vítima de um crime
27- não têm direito à visita íntima na prisão
28- não acompanham a parceira no parto
29- não podem autorizar cirurgia de risco
30- não podem ser curadores do parceiro declarado judicialmente incapaz
31- não podem declarar parceiro como dependente do Imposto de Renda (IR)
32- não fazem declaração conjunta do IR
33- não abatem do IR gastos médicos e educacionais do parceiro
34- não podem deduzir no IR o imposto pago em nome do parceiro
35- não dividem no IR os rendimentos recebidos em comum pelos parceiros
36- não são reconhecidos como entidade familiar, mas sim como sócios
37- não têm suas ações legais julgadas pelas varas de família

sábado, 8 de setembro de 2007

Eu vou e vou levar um monte comingo


Sejam todas/os bem-vindas/os ao site do V Encontro Nacional

de Diversidade Sexual. Nos seguintes links estão disponíveis

diversas informações sobre o evento. Destacamos que

estão abertas as pré-inscrições para o V ENUDS: de

19 de agosto a 19 de setembro. Participe! Atente,

também, às inscrições nas demais modalidades de

participação no evento: apresentação de propostas

artístico- culturais; inscrição de oficinas e mini-cursos; e

comunicações (para apresentação oral de trabalhos acadêmicos)

Comissão Organizadora do V ENUDS.

secretaria5enuds@yahoo.com.br

Realização

Parceria



Desintegrar ou Integrar?

de João Silvério Trevisan, autor do clássico "Devassos no Paraíso"

Integrar-se ou desintegrar, eis a questão. Percorro o meio homossexual e não canso de me deparar com situações surpreendentes. Não, não vou falar de pegação (ou açougue) nos cinemas, parques e saunas -- não desta vez. Num debate promovido pelo CAEHUSP, dentro do seu ciclo de mesas redondas sobre homossexualidades, ouvi uma conversa que foi entusiasmando o público na mesma proporção em que ia me deixando de cabelos em pé. Como havia uma vereadora presente, alguém propôs com eloquência que ela encaminhasse junto à Câmara dos Vereadores de São Paulo os projetos de: 1) determinar uma praça para as bichas caçarem à vontade (sugeriu-se a Praça Roosevelt, pela proximidade de vários outros points gueis); 2) batizar ruas e criar monumentos com nomes de bichas e lésbicas eméritas. “Meu Deus, se mencionarem o meu nome, onde vou me esconder?” -- pensei, aterrorizado ante a possibilidade de estar entre as bichas eméritas. Não iria me esconder por timidez. É que eu execro monumentos de qualquer tipo, a qualquer pessoa. Na década de 70, quando morava no México, fiz meu único poema em espanhol, em homenagem a García Lorca, amaldiçoando as pedras dos monumentos feitos sobre nossos cadáveres, depois que nos atiraram pedras a vida toda. Mais recentemente, quase criei sérios problemas político-familiares quando o prefeito de minha cidade natal quis criar um centro cultural com o meu nome. Considerando que era período eleitoral, o centro seria inaugurado sem qualquer infra-estrutura, para ser fechado em seguida, e eu me sentiria manipulado. Mas, sobretudo, pesava a incongruência da minha situação: prestes a ser despejado do meu apartamento, sem dinheiro e solitário num país de merda -- mas com meu nome na fachada de um centro cultural!... Ou seja, tem algo de podre no reino da Dinamarca. Querem nos prestar homenagem? Pois que seja em vida, aqui e agora, sem motivo especial: a maior homenagem é nos deixar viver do jeito que somos, queremos e merecemos pelo que fizemos. Ou seja, reconhecimento real e não hipocrisia para descarregar consciências pesadas. Por isso, no tal debate, a convicção com que se reivindicava a consagração do gueto me pareceu uma burrice suprema. Ao contrário do que se pensava, não havia nisso libertação, mas confinamento: pode-se trepar, contanto que seja ali. Ora, faça um exercício de imaginação para pensar no que não nos estaria sendo pedido em troca, pois nada nos é dado de graça -- sejamos nós pobres ou pretos ou homossexuais ou, de algum modo, parte daquele grupo de cidadãos de segunda catergoria, tratados como a escória neste país de banqueiros e ruralistas. Ou não é ser escória ouvir piadinhas, amar clandestinamente, ter que esconder metade da sua vida, etc, etc. etc.?
(Sei que cada um de vocês pode fazer, por experiência própria, sua lista da repressão quotidiana que nos impingem.)
Pra mim, um fato é certo: não preciso que determinem um lugar onde eu possa caçar, simplesmente porque quero caçar em qualquer lugar da cidade. E quanto aos monumentos, recuso ser cooptado depois de morto. Vivo incomodando e tenho pago (alto) preço por isso: apesar de extremamente intensa e criativa, graças ao meu esforço, minha vida é cheia de dificuldades e humilhações (recentemente um jornal devolveu um artigo que eu, com 52 anos, escrevera a seu pedido; e me pagou -- para não publicar; tema: homossexualidade) . Portanto, prefiro que a sociedade -- que me puniu por ser bicha, pensar com a própria cabeça e escrever criativamente -- continue me tendo atravessado em sua garganta, mesmo quando eu já for cadáver.
Por que não pensar maior, para além do gueto? Criar, tirar do nada, inventar, não é o que fazemos a vida inteira? A partir de espaços rarefeitos e emoções recônditas, criamos e inventamos o nosso mundo incessantemente, para poder sobreviver no exílio em que nos meteram. Ou será que a discriminação que sofremos é apenas um faz-de-conta de gente mimada (que só pensa em trepar, como se diz por aí, a nosso respeito)? Será que não é prova de burrice sonhar em integrar-se na mesma sociedade injusta que nos oprime? Será que tudo o que queremos é partilhar da mesma mediocridade que nos empurra para as margens? Ah, a margem! Eis o ponto. Por menos que seja, o nosso grande trunfo é o olhar das margens que fomos obrigados a desenvolver. É esse olhar que nos fornece instrumentos para exercer a crítica à cultura e é graças a ele que podemos sonhar com (talvez propor) um mundo diferente. Nossa “doença” é o melhor que temos. Caso contrário, seria preferível casar, ter filhos e virar “saudáveis” executivos -- como fazem muitos “homens de bem”, ainda que continuem freqüentando saunas de viado, às escondidas. Integração? Não, obrigado. A sociedade tem que aprender não com nossa saúde forjada, mas com nossa “doença” -- aquilo que ela considera doença, porque a assusta e coloca em crise. Afinal, somos “doentes” quando ousamos transgredir, arriscando muito, quase tudo. E transgredir em nome de valores que estão muito acima da mediocridade medida pelo preço do mercado. Não é graças a esses valores que conseguimos sobreviver afetivamente no deserto, cavando com as próprias mãos o nosso amor e a nossa fé, todos os dias? Pois é com isso também -- nossa “doença”-- que construímos nossa singularidade individual. Portanto, chega de palavras-de- ordem, seja na publicidade que nos manda comprar para ser belos (consumir para ser mais consumível), seja nos discursos revolucionários de algibeira, ansiosos por substituir os ocupantes atuais do trono. Melhor, isso sim, tomar posse da nossa homossexualidade como um trampolim para a desintegração.
Desintegrar, por exemplo, equívocos como aquele do masculino baseado no culto fálico e na sua própria falta de saída. (Esse é um outro papo, a crise do masculino -- da qual as bichas somos ponta de lança, quando exacerbamos as contradições masculinas.)
Se temos uma função social própria, essa é desintegrar. Somos mestres em desintegrar, já que vivemos da desintegração. Nós construímos não contra ela mas graças a ela. Aprendemos a viver em meio aos fragmentos que nos deixaram sobrar. Os negros brasileiros sabem do que estou falando: pensem na feijoada, hoje prato nacional, criada pelos escravos com os restos de comida que recebiam. No caso homossexual, a singularidade está na repressão que sofremos desde pequenos. Pode parecer pouca porcaria. Mas não é. A sociedade, tal como constituída, dificilmente poderá nos aceitar em seu seio -- a menos que ela mude, coisa comprovadamente difícil; ou que mudemos nós -- tal como já fizeram milhares de pessoas no decorrer da História.
Essas são as duas alternativas possíveis. E digo por que a sociedade não pode nos engolir. Por mais que proliferem os bares, as danceterias, as saunas, os desfiles de moda, as peças/filmes/exposições e até mesmo os espaços na mídia, estaremos sempre sob vigilância estrita -- porque somos basicamente condenáveis. Socialmente, vivemos num ilusório bolsão de tolerância. Ou será que, na reforma constitucional brasileira você viu a esquerda votando a favor da opção sexual como um direito do cidadão? Será que já ouviu D. Evaristo Arns, o cardeal que adora ficar do lado dos oprimidos, reconhecer a opressão aos homossexuais? Será que você conhece algum organismo internacional ligado à ONU que defenda os direitos homossexuais no mesmo grau de legitimidade com que brande os direitos dos negros, das crianças, das mulheres, dos índios, etc.? Não. E duvido que vá conhecer tão breve.
Pelo mesmo motivo que até hoje não permitiu indenização aos homossexuais vítimas do nazismo, como aconteceu com outros grupos, fossem eles judeus, políticos e até mesmo ciganos. Ou pelo motivo que leva os delegados brasileiros a engavetar sistematicamente os casos de assassinatos de homossexuais. Será que você nunca notou o constrangimento mal disfarçado das campanhas contra a Aids, no tempo em que isso era basicamente doença de viado (que dá o cu, como o Paulo Francis fazia questão de frisar)? O motivo é simples. Para a atual sociedade moderninha, mesmo quando não afirma em voz alta, nós ainda significamos um bocado de coisas abomináveis. Eu poderia citar uma penca delas. Mas vamos nos concentrar apenas no denominador- comum que perpassa todas as condenações, discriminações ou omissões conhecidas: o prazer. Nós horrorizamos o mundo porque nossa grande reivindicação repousa sobre a liberdade de amar, um amor não procriativo, que visa apenas o prazer. Você poderá dizer que hoje isso não é privilégio nosso, já que a sociedade moderna assenta-se sobre o hedonismo e o consumo. Engano, pois o nosso prazer passa por outro viés: o do estigma historicamente consagrado-- como já analisei na SG nº 23. Nosso prazer é ultrajante. Está lá na Bíblia, mas também em leis americanas ou inglesas ou chinesas e na orientação seguida por muitos catedráticos de psicologia, até hoje. Além do mais, o prazer veiculado em nossas sociedades é sempre uma escapatória para a culpa. Culturas que têm como figura icônica um Deus sofrendo na cruz costumam ter problemas com o prazer puro e simples -- principalmente o sexual, sem pretensão reprodutiva. Por isso, fazemos emergir o lado sombra dessas sociedades baseadas na necessidade do sofrimento. Despertamos seus demônios adormecidos. Elas adoram nos crucificar porque ousamos nos contrapor à crucifixão (e, às vezes, pervertemos a própria dor, ao substituir Cristo por São Sebastião -- aquele todo flechado, que suspira de amor).
Em resumo, para ela nós não temos conserto. E isso nos outorga uma grande vantagem: somos fascinantes objetos do desejo recalcado da sociedade. Enquanto formos proibidos, estaremos também encantando. Ou alguém duvida que quanto mais proibido mais desejado? É a lei da culpa. Há muito tempo a humanidade vem exorcizando através do horror ao nosso “desvio” seu próprio desejo de transgredir. Somos o espelho de sua transgressão, por nós atualizada.
Quando a sociedade vai nos integrar? No dia em que formos suficientemente integráveis. E, repito: pagando um preço. Pense em quanto vai ser preciso dar em troca. Exercite sua imaginação: faça uma lista. No final, você verá que o Paraíso Social tem cara de papai-mamãe -- que poderá ser papai-papai ou mamãe-mamãe. Mas sempre se exigirá que a gente se coloque no nosso lugar, quer dizer, o lugar à margem que a sociedade nos ofereceu, sobretudo quando delimita nosso espaço. Porque lá é o lugar dos transgressores que somos, gostemos ou não.
Portanto, será preferível continuar criando Vida nessas inóspitas margens. Foi o que muita gente extraordinária fez. Foi o que Safo fez. Sócrates fez. Michelângelo. Tchaikovsky. Virginia Wolf. Pasolini. Marguerite Yourcenar. Mário de Andrade. É outra lista longa. Informe-se e faça a sua própria. Vai ser delicioso saber que você nunca esteve só -- parte do seu verdadeiro mundo, não daquele onde nos querem enfiar. E haja listas!

(Publicado na revista SUI GENERIS; julho/1997, nº 25; e como apêndice do meu livro DEVASSOS NO PARAÍSO, Ed. Record, 2.000)

Nada

"Socorro, não estou sentindo nada
Nem medo, nem calor, nem fogo
Não vai dar mais pra chorar, nem pra rir
Socorro, alguma alma, mesmo que penada
Me entregue suas penas
Já não sinto amor, nem dor, já não sinto nada
Socorro, alguém me dê um coração
Que esse já não bate, nem apanha
Por favor, uma emoção pequena
Qualquer coisa
Qualquer coisa que se sinta
Em tantos sentimentos
Deve ter algum que sirva
Socorro, alguma rua que me dê sentido
Em qualquer cruzamento, acostamento, encruzilhada
Socorro, eu já não sinto nada, nada"

Socorro...

Assintomática...nem a angústia incomoda mais

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Ilusões que invadem







Constantemente eu queria mudar o ângulo...



segar-me para, quiçá, ver aquilo que saltava às outras impressões mais primitivas, mas não menos refinadas e sensíveis...



frustada na tentativa de enchergar na escuridão...convido a luz a refazer, a reeducar, as imagens que chegam a mim...quero também poder invadir como sou invadida...talvez assim eu consiga retirar de alguns as encrustadas, firmes e densas camadas de opacidade, distorção e alienação que são cotidianamente colocadas quando nos habituamos a viver dentro de uma bolha cercada por arrame farpado...