sábado, 6 de outubro de 2018

Movie - Carol or The price of salt


O ritmo do filme é ondular. Uma eclipse ascendente que mostra a evolução de duas mulheres e seus contextos. 
Além disso, o encontro entre as duas é suspirante...há o impulso do desejo com um ritmo de valsa à lá o quebra nozes...muita coisa é compartilhada e construída ao mesmo tempo em que existe muita coisa que é desconstruída e desmanchada. 

A ambientação nos anos 1950, durante o boom do "American Way of Life" (estilo de vida americano), no pós 2ª guerra deveria nos remeter ao 'consuma para ser feliz', contudo trás um estética de cores quentes e tons pastéis, refletindo austeridade e elegância. 

Adiante, mesmo durante uma roadtrip, o foco é o relacionamento das personagens e não os locais por onde passam. Isso é sugerido, nada mais. O importante aqui é como o encontro entre duas mulheres de gerações diferentes e em momentos diferentes da vida consegue amadurecer e transformar ambas. Fica evidente também a mudança do entorno, do ambiente e de como as pessoas envolta do enredo principal lidam com a homoafetividade feminina. Há um misto de liberalismo (no sentido de liberdade individual) e perseguição (aqui delimitado por uma conflito jurídico).

Acrescento: parecer existir uma fundação do enredo mantida pelo não dito, pelo permitido, pelo negociável e pelo inegociável (e aqui a vivência e a existência desse relacionamento é inegociável). Uma surpresa e tanto é a saída arranjada entre o declarado e o manifestado dentro de um panorama onde a homoafetividade é quase ilegal nos EUA dos anos 50.


segunda-feira, 22 de maio de 2017

Negociações com o armário


A experiência da negociação... é no mínimo sofrida...esconder-se é sofrer sim...é ser menos você.
E quando somos menos nós mesmos, perdemo-nos. A integralidade se desfaz.
E para recuperá-la a luz interior propõe a mudança em todos os níveis...até o desespero berrar a  liberdade de volta. Aí, com a tormenta feita e desfeita advém o equilíbrio. A serenidade retorna ao corpo; à alma e ao coração.
E a vida segue como deve: a gente sendo da gente mesmo.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Carmilla e os vários esteriótipos da lesbianidade

O conto vampiresco Carmilla do autor Sheridan Le Fanu escrito em 1872

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lustração de D. H. Friston para The Dark Blue, 1872 


Imagine a seguinte imagem de mulher: poderosa, forte, indiscutível, indestrutível e infinitamente bela e que independe de homens para satisfação de seu prazer. Isso deve ser no mínimo aterrorizante para as normas heterossexuais né!? Provavelmente era isso que tinha em mente Sheridan quando construiu a personagem   Carmilla com seus anagramas Mircalla e Millarca (clique para acessar o livro), o conto vampiresco também contribuiu com seus elementos para inspirar mais adiante  Bram Stoker a escrever Drácula em 1897.

E como a maioria das referências homoafetivas femininas é desconhecida (para mim pelo menos Carmilla  só  me foi apresentada em 2011), achei de bom tom dar à essa história a importância que merece na formulação dos esteriótipos das várias lesbianidades.
  
Primeiro falemos da Mulher:

A construção da mulher na sociedade ocidental atual se dá pela negativa ao homem. Ela é escuridão onde homem é luz, é negativo quando o homem é positivo é fraca onde o homem é forte. Mas ela também é Selvagem (nos termos do livro Mulheres que correm com lobos da Estés). Esse Selvagem que faz luz e escuridão, positivo e negativo, atividade e passividade, público e privado, arte e ciência se integrarem e revela mulheres  como:  Rose Marie Muraro, Virgínia Woolf, Beyonce, Marie Curie, Hilda Hiltst, Johanna Dobereiner, Cecília Meireles, Florence Sabin, VAngue Leonel  entre muitas outras que esqueci de citar.

O esteriótipo da Mulher Lésbica:

Aqui a construção social vai pintar uma figura que almeja ser um homem, mas que falhou. O lugar social é o da mulher masculinizada. Mesmo que existam mulheres heterossexuais com essas características elas são taxadas de mulher-macho e são alvo de discriminação por tal. Deixo claro que não estou a tratar dos homens transsexuais (homens que nasceram num corpo biologicamente definido com a fêmea da nossa espécie) e sim de mulheres que se sentem mais confortáveis em trajes mais pasteis, com predominância  de calças e blusas menos decotadas e uma performance do corpo reconhecidamente altivo e impositivo.

Mas existem lésbicas de várias classes sociais, raças, etnias, línguas, regiões, religiões e de diferentes concepções políticas. E que, portanto, ampliam as expressões das lesbianidades para além da mulher-macho. Há Sapatão, Sapas, Sapa-caixa, Bolachas, Sandalinhas, Sapatilhas, Fanchas, Golden Lesbians, Entendidas e Mulheres que preferem Mulheres sem taxações.

Agora tratemos de Carmilla, ou Millarca ou Mircalla:

Funeral, illustration by Michael Fitzgerald for Carmilla in The Dark Blue, January 1872

Com essa aterrorizante construção de  mulher Fanu, ao meu ver, apresenta-nos o prazer da mulher com outra mulher como algo abominável mesmo sendo algo de gradioso deleite para as envolvidas. É a reivindicação  do  prazer da mulher não sujeitado à satisfação do prazer do macho. E isso é subversivo de um tamanho sem igual numa sociedade misógina, sexista e machista como a nossa.
E  abre precedente para a independência feminina em outras esferas na vida público-privada: como a conquista da igualdade jurídica e econômica.

A independência do gozar de Carmilla pode ser visto como um desvio da norma heterossexualizante que preconiza mulheres como objetos de satisfação do ser masculino. Ainda assim a emergência no imaginário popular europeu de uma mulher tão independente nos faz repensar e reinventar as relações de gênero e  torna  mulheres e homens mais livres, ao passo que começamos a respeitar a(o) outra (o) como um ser que tem direitos iguais. E não mais nos submetemos e fazemos submeter a(o) outra (o) a regras sociais repressoras, limitadoras e hipócritas.

Conheçam a obra e bom proveito:


http://www.literaturaemfoco.com/?p=2971

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/?p=11201

http://en.wikipedia.org/wiki/Carmilla

http://vampiresthesedays.com/2011/07/06/the-romantic-friend-of-the-19th-century/

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

10ª Caminhada das Lésbicas e Bissexuais de BH



PROGRAMAÇÃO COMPLETA DA 3ª SEMANA DA VISIBILIDADE LÉSBICA E BISSEXUAL DE BELO HORIZONTE- MG
https://caminhadalesbibh.wordpress.com/


22/08 – Sexta-feira
19hs - Saúde da Mulher Lésbica e Bissexual (Rede Feminista de Saúde)
Local: FEAD - Unidade V, Saúde - Sala 5a - Rua Santa Rita Durão, 1160, Funcionários

23/08 – Sábado
14h – Debate: Papo Lés (Negras Ativas)
Local: Sede das Negras Ativas (Rua da Bahia, 573, Sala 702)

17h – Encontrinho + Bate Papo Sapatão (GARRa Feminista)
Local: Praça Raul Soares

24/08 – Domingo
9h – Futebol Lés (Rede Afro LGBT)
Oficina de Stêncil & Camisetas (GARRa Feminista)
Oficina de Construção de Instrumentos (Coletiva Pêlas)
Local: Escola Estadual Afonso Pena, Av. João Pinheiro, 450 - Funcionários

25/08 – Segunda-feira
19h – Atividade: Consenso Sexual Entre Lésbicas (Coletiva Pêlas)
Local: Instituto Helena Greco - Rua Hermilo Alves, 290 Santa Tereza

26/08 – Terça-feira
19h – Atividade: Chá com Bolachas (Suspirin Feminista)
Local: Instituto Helena Greco - Rua Hermilo Alves, 290 Santa Tereza

27/08 – Quarta-feira
17h – Debate: “Violência e Lei Maria da Penha” (DCE UFMG)
Local: Praça de Serviços da UFMG

28/08 – Quinta-feira
18:30h – Cine Pipoca com Roda de Conversa – Filme: Pariah ( Rede Afro LGBT)
Local: Cine Clube Joaquim Pedro de Andrade na Rua Tupinambás, 179 - 14ºandar - Centro - BH/MG

29/08 – Sexta-feira
19h – Piquenique da Visibilidade Lésbica
Local: Praça Raul Soares

30/08 – Sábado
10ª Caminhada das Lésbicas e Bissexuais de Belo Horizonte

31/08 – Domingo
14hs Viva as Ocupações urbanas – Resiste, Sapatão!
Local: A confirmar

01/09 – Segunda
17h – Debate: Feminismo Anti-prisional (Suspirin Feminista)
Local: Instituto Helena Greco - Rua Hermilo Alves, 290 Santa Tereza.

domingo, 20 de outubro de 2013

Filme Fire: o cinema dos anos 90 e homoafetividade feminina


Tem uma gama imensa de filmes lés ou com o tema da homoafetividade feminina produzida a partir dos anos 2000. Mas o que me parece novidade nesses últimos dias é a grande produção de fimes lés da década de noventa. E que estão sendo recuperados e colocados no youtube e no vimeo.

São filmes que priorizam a garantia da liberdade de amar e de se poder expressar isso.

Destaco When night is falling (canadense), Fire (indiano),  Better than Chocolate (estadounidense). Procurar pelos títulos em inglês torna mais fácil encontra-los.



Esses filmes são filmes que tem em comum a evidência da reciprocidade e do reconhecimento da diferença e,  a conquista de respeito pelo amor que se compartilha com  outra pessoa. Seja numa cidade grande indiana na qual elementos da cultura tradicional e da globalização ocidental convivem, seja numa pequena cidade canadense por onde o circo (estilo circe d soleil) está passado, seja numa cidade litoranea dos estados unidos onde a garantia da liberdade é um imperativo nacionalista e paradoxal.

Todos esses filmes tratam de uma temática que é o apaixonamento entre mulheres e como se lida com isso. Novos repertórios de relacionamento surgem no cinema e, se hoje, conseguimos amar livremente foi graças a esforços de mulheres do cinema que quiseram garantir a apresentação de tal tema nas telonas ou pelo menos em VHS em alguns países...

Veja mais filmes... tem bons filmes com tramas centradas na heterossexualidade que são bons e até abordam a diversidade, mas recomendo esses porque é justo e necessário a gente se lembrar de respeitar xs diferenças. Elas já estão aí...existindo.



segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Filme - Water Lilies

A adolescência aqui é um material de vivência dos desejos geniosos, das disposições de resolução ingênuas, das descobertas e ritos do desejo.

A ausência de figuras adultas no filme cria um cenário que  mescla a negligência, a distração e a vontade de esconder própria da adolescência. É como se as meninas estivessem entregues à própria sorte.


Quero destacar uma cena do filme que noto na visão de vanguarda do cinema frances: A vontade de saber o gosto do outro, tomando para si aquilo que é lixo deste nos remota a nossa própria trajetória de como lidamos um dia com o imperativo de se relacionar com um outro num nível até então desconhecido: no nível do corpo.

E se deparar com o NÃO saber da recipocidade nesse nível é devastador. Marca-nos com o vácuo da indiferença - expressão máxima da ausência de amor.

O amor não tem espaço em Lilies Water. O uso do outro como objeto sim. Torna-se importante para conhecê-lo as indiretas e diretas.

O mais gostoso do filme é esse convencional e não convencional.Sem dúvida um enredo com muita arte.

Veja com olhos carinhos e atentos.

http://www.youtube.com/watch?v=4S9azoVd9es

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Cassandra Rios - Signos de uma mulher invisível

Foi no Encontro Nacional da Articulação Brasileira de Lésbicas que me relembraram com carinho e entusiasmo sobre a escritora Cassandra Rios.

A origem do pseudônimo  de escritora se dá pela vontade de expressar-se como Cassandra.

A produção literária singular é um álbum de retrato das extratos sociais e dos trajetos históricos que habitam o Brasil, e mais, pelos quais as mulheres brasileiras, as mulheres brasileiras lésbicas e/ou bissexuais e/ou curiosas passaram. Faz parte da memória brasileira.

É inestimável o valor de sua produção. As tiragens de seus livros nos anos 60 e 70, num país sem internet, e a voraz aceitação popular dissem de uma linguagem que acessa os corpos. 

Pornográfico era a classificação dada pela censura. Afinal, como uma mulher se atrave a criar e escrever em cima do desconhecido e quase silencioso mundo do prazer da mulher. E mais: fazer sucesso com isso? 

E, como julgar não é dado nesse espaço, cada qual que faça suas apostas.

Para quem quer conhecer, os livros de Cassandra Rios estam disponíveis no mercado de sebos, na internet e no mercado livreiro em geral. Procurem e boa leitura.

Alguns títulos:

Volúpia do pecado ( primeira publicação - 1948)

A paranóica (em 1980 foi para o cinema)



E para quem quiser ler mais sobre Cassandra:

http://www.revistadehistoria.com.br/secao/leituras/sou-uma-lesbica

http://revistazingu.blogspot.com.br/2007/08/cassandrarios.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cassandra_Rios