O conto vampiresco Carmilla do autor Sheridan Le Fanu escrito em 1872
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lustração de D. H. Friston para The Dark Blue, 1872 |
Imagine a seguinte imagem de mulher: poderosa, forte, indiscutível, indestrutível e infinitamente bela e que independe de homens para satisfação de seu prazer. Isso deve ser no mínimo aterrorizante para as normas heterossexuais né!? Provavelmente era isso que tinha em mente Sheridan quando construiu a personagem Carmilla com seus anagramas Mircalla e Millarca (
clique para acessar o livro), o conto vampiresco também contribuiu com seus elementos para inspirar mais adiante Bram Stoker a escrever Drácula em 1897.
E como a maioria das referências homoafetivas femininas é desconhecida (para mim pelo menos Carmilla só me foi apresentada em 2011), achei de bom tom dar à essa história a importância que merece na formulação dos esteriótipos das várias lesbianidades.
Primeiro falemos da Mulher:
A construção da mulher na sociedade ocidental atual se dá pela negativa ao homem. Ela é escuridão onde homem é luz, é negativo quando o homem é positivo é fraca onde o homem é forte. Mas ela também é Selvagem (nos termos do livro Mulheres que correm com lobos da Estés). Esse Selvagem que faz luz e escuridão, positivo e negativo, atividade e passividade, público e privado, arte e ciência se integrarem e revela mulheres como: Rose Marie Muraro, Virgínia Woolf, Beyonce, Marie Curie, Hilda Hiltst, Johanna Dobereiner, Cecília Meireles, Florence Sabin, VAngue Leonel entre muitas outras que esqueci de citar.
O esteriótipo da Mulher Lésbica:
Aqui a construção social vai pintar uma figura que almeja ser um homem, mas que falhou. O lugar social é o da mulher masculinizada. Mesmo que existam mulheres heterossexuais com essas características elas são taxadas de mulher-macho e são alvo de discriminação por tal. Deixo claro que não estou a tratar dos homens transsexuais (homens que nasceram num corpo biologicamente definido com a fêmea da nossa espécie) e sim de mulheres que se sentem mais confortáveis em trajes mais pasteis, com predominância de calças e blusas menos decotadas e uma performance do corpo reconhecidamente altivo e impositivo.
Mas existem lésbicas de várias classes sociais, raças, etnias, línguas, regiões, religiões e de diferentes concepções políticas. E que, portanto, ampliam as expressões das lesbianidades para além da mulher-macho. Há Sapatão, Sapas, Sapa-caixa, Bolachas, Sandalinhas, Sapatilhas, Fanchas, Golden Lesbians, Entendidas e Mulheres que preferem Mulheres sem taxações.
Agora tratemos de Carmilla, ou Millarca ou Mircalla:
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Funeral, illustration by Michael Fitzgerald for Carmilla in The Dark Blue, January 1872 |
Com essa aterrorizante construção de mulher Fanu, ao meu ver, apresenta-nos o prazer da mulher com outra mulher como algo abominável mesmo sendo algo de gradioso deleite para as envolvidas. É a reivindicação do prazer da mulher não sujeitado à satisfação do prazer do macho. E isso é subversivo de um tamanho sem igual numa sociedade misógina, sexista e machista como a nossa.
E abre precedente para a independência feminina em outras esferas na vida público-privada: como a conquista da igualdade jurídica e econômica.
A independência do gozar de Carmilla pode ser visto como um desvio da norma heterossexualizante que preconiza mulheres como objetos de satisfação do ser masculino. Ainda assim a emergência no imaginário popular europeu de uma mulher tão independente nos faz repensar e reinventar as relações de gênero e torna mulheres e homens mais livres, ao passo que começamos a respeitar a(o) outra (o) como um ser que tem direitos iguais. E não mais nos submetemos e fazemos submeter a(o) outra (o) a regras sociais repressoras, limitadoras e hipócritas.
Conheçam a obra e bom proveito:
http://www.literaturaemfoco.com/?p=2971
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/?p=11201
http://en.wikipedia.org/wiki/Carmilla
http://vampiresthesedays.com/2011/07/06/the-romantic-friend-of-the-19th-century/