domingo, 23 de setembro de 2007

Com que roupa? - Vange Leonel

"Você é lady ou sapatão?". Era Assim que começava uma abordagem clássica nos bares lésbicos mais populares de São Paulo, no final dos anos 1970. Grande parte das garotas homossexuais procurava se encaixar num desses dois esteriótipos: esconlhendo vestir-se e portar-se omo lady , cabelos compridos, roupas femininas e maquiagem, ou então preferindo o outro lado, usando roupas masculinas, camisa social, calça de tergal e cabelos curtos.
Confesso que a primeira ve zque me perguntaram es eeu era lady ou sapatão eu naõ soube resonder. Foi na mesma noite em que conheci uma garota, muita bonita e de cabelos compridos, e que dividiu comingo sua grande angústia: ela adorava seus longos cabelos, mas as amigas fanchonas insistiam para que ela passasse uma tesoura - se ela era sapatona deveria usá-los curtos, diziam.
Vestir-se como homem e adotar menerismos masculinos já é coisa bastante antiga. Joana D´Arc teve de cortar os cabelos e vestir-se como soldado para poder comandar suas tropas na batalha de Orleans contra os ingleses. Há mesmo rumores de que, por volta do ano 855 d. C., foi coroado um papa que na verdad era uma mulher - a papisa Joana - que também se vestia como homem para driblar os impedimentos da igreja quanto às mulheres que almejam o sacerdócio.
Mais recetemente, na metade do século passado, a escritor aAurore Dupin encontrou a liberdade ao deixar o marido para viver sozinha em paris. Vestia-se com roupas masculinas, fumava charuto, acreditava na igualdade entre os sexos e resolveu adotar para si o nome George Sand, com o qual assinava seus romances.
Na América dos anos 1950, as primeiras militantes lésbicas acusavam as sapatonas de pôr mais lenha na fogueira do preconceito, pois faziam com que a sociedade tivesse uma idéia muito esteriotipada e distorcida do que era a homossexualidade feminina. Não parece muito diferente do que acontece hoje em dia. Lamentavelmente, existe uma certa resistência, mesmo no meio homossexual, às lésbicas mais masculinizadas, como se existisse uma cartilha a ser seguida. Será que aquele tão valorizado "express yourself" já não vale mais nada?
Foi grande a controvérsia causada quando, no começo da décasa de 1990, as drag kings vieram à tona e se tornaram mais visíveis, principalmente nos Estados Unidos e na Inglaterra. A fotógrafa lésbica californiana Della Grace, espoente máximo dessa turma, chegou a editar um livro de ensaios fotográficos. Love bites, no qual mostrava muitas drag kings, casais de garotas masculinizadas praticando atos de penetração com dildos e cenas de sadomasoquismo. O livro foi boicotado mesmo nas livrarias dedicadas à comuniade homossexual e Della Grace pôs a boca no mundo, reclamando que o movimento gay queria continuar deixando essas garotas na invisibilidade. Della Grace agora chama-se Del Grace e assumiu uma identidade andrógina, nem macho, nem fêmea.
A liberdade de ser o que se é não pode ser conquistada pela metade. Se lésbica e gays lutam por maior visibilidae, não devem patrulhar a livre expresão de seus pares. Se Del e sua turma gostam de aplicar esparadrapinhos com hormônios masculinos no queixo para deixar a barba crescer, o que os outros têm com isso?
O travestismo é algo tradicional e fundamental em várias culturas, com forte importâcia ritual. Na Grécia antiga, era comum raspar a cabeça e aplicar barba postiça nas mulheres recém-casadas até que elas ficassem grávidas. Pajés de tribos norte-americanas vestiam-se de mulher, garotas de tribos africanas faziam sua iniciaçã o na puberdade usando roupas de homens e em algumas ilhas da ndonéisa era comum travestir crianças doentes para que fossem curadas.
Ora se tantos atos de cura e rituais de passaem estão relacionadas ao travestismo, por que querer que as pessoas sigam um padrão de vestimenta e comportameento tão carreta, tão quadrado e tão uniforme?
A fantasia é direito inexpunável dae cada um. Mesmo não sendo lady, nem sapatao, nem drag king, nem lesbian chic, é direito de uma mulher esr o tipo que ela quiser, vestir a roupa que preferir e até mesmo ser tudo isso junto ou de um jeito diferente a cada dia da semana.
Ruim é ter que se cmportar segundo uma cartilha politicamente correta, mesmo sendo ela ditada por um ativismo gay pretensamente consensual, mas na verdade careta e estreito. A liberdade e a visibilidade são para aas borboletas, para os lacinhos cor-de-rosa e também para os sapatões.
Fotnte: Grrrls: Garotas Iradas. Vange Leonel

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