domingo, 9 de setembro de 2007

Muito Além da Alcova - Vangue Leonel







Um dos argumentos mais usados por gays e lésbicas que não querem sair do armário é a frase: "O que eu faço entre as quatro paredes do meu quarto não é da conta de ninguém". Ok eu concordo. Eu mesma não saio por aí falando que prefiro 69, firt funcking ou stip-tease para me excitar durante as preliminares. Mas memso que eu não revele meus segredos de alcova, nada impede que eu deixe claro que gosto de namorar garotas.






O que acontece é que algumas pessoas ainda encaram o relacionamenteo homo algo pura e exclusivamente da alçada sexual, esquecendo-se de que existe um mundo fora das quatro paredes do seu próprio quarto. Pensando dessa maneira, essas pessoas vivem plenamente a sua vida homossexual dentro de casa, dentro dos bares gays e do gueto e, como sua vida "sexual" não interessa a mais ninguém. não vêem necessidade de tornar visíveis a sua orientação sexual e a sua expressão homoerótica e afetiva.






O que muita gente esquece quando usa esse argumento é de que gays e lésbicas são, além de homossexuais, seres sociais. Insistindo na tese de que a homossexualidade é uma questão de foro íntimo, reforça-se mais um preconceito: o de que gays e lésbicas só pensam em sexo, cama, orgasmos e suspiros. Ou seja, coloca-se a transa homossexual como algo que não sai do quart e que não vai para a sala de visitas. Pois saibam que essa é mais uma das manobras silenciosamente orquestradas pelo hetero-partriarcado para privar gays e lésbicas de um poder extraordinário: o poder de expressar socialmente o seu amor.
Hoje em dia a sociedade reserva áreas específicas para que gays e lésbicas possam expressar publicamente seu afeto - bares onde podem se encontrar para exercitar o seu poder de sedução. Isso não soa um pouco como um apartheid? Não se parece também com os Estados Unidos doa anos de 1950, quando os negros tinham que se sentar na parte de trás dos ônibus para não se misturar com a população branca?



A maioria dos gys e lésbicas do nosso país, no entanto, ainda prefere viver segregada. A facilidade que o gay te para esconder a orientção sexual da família, no ambiente de trabalho e no espaço público faz com que exista uma falsa impressão de que é plenamente acolhido pela sociedade, quando de fato esse abrigo é bem meia-boca: tudo bem, pode ser lésica, mas não beije sua namoada num shopping center...



Você pode achar que passa a sua vida numa boa sem beijar sua queridona num shopping, mas isso é, sim, segregação. A ocupação do espaço público é impotantíssima para qualquer pessoa. É em público que enxontramos os outros cidadãos que compõem nossa sociedade e, se queremos fazer qualquer coisa na vida que não seja entre as quatro paredes do nosso quarto é no espaço público que iremos trabalhar para melhorar, entreter e transformar o mundo à nossa volta.



Por isso é necessário que os homossexuais ocupem o espaço público de maniera honesta e franca, porque se deixarmos todo nosso poder de sedução trancado no armário, além de parecermos tolos, mal amados e assexuados, estaremos privando a sociedade da nossa valiosa contribuição como cidadãos. Um gay que atua publicamente sem poder manifestar o seu homoerotismo estará atuando pela metada, pois falar em alto e bom som que se ama e a quem se ama é um dos mais poderosos gritos de guerra jamais inventados. O hetero-patriarcado é mestre na glorificação das suas expressões amorosas: do romance entre César e Cleópatra até a incrível paixão de Rose e Jack no filme Titanic, a expressão amorosa heterossexual sempre serviu como mola propulsora, arma e estímulo para heróis que conquistaram impérios e transformaram o mundo sempre.



Ora, se a expressão amorosa tem tanto poder assim, porque vamos deixar de expressar o nosso amor publicamente? Não estaria mais do que na hora de tirar o amor homossexual de dentro das quatro paredes e apresentá-lo finalmente à sala de visitas? Quem levará a melhor se continuarmos dentro do armário? Com certeza, aqueles que têm problemas quando vêem dois homens se beijando. Quem fica do lado de dentro só ganha mesmo a companhia nada agradável das traças e dos cabides.



Pois então, para aquelas que dizem "o que faço entra as quatro paredes do meu quarto não é da conta de ninguém", eu respondo que certamente não é da minha conta se você prefere dedos ou dildos. Mas que isso não a impeça de sair de mãos dadas com a sua namorada num shopping center e que isso não seja argumento para você deixar de ocupar o espaço público com as suas expressões homoafetivas.



Não esqueça nunca que a manifestação do seu amor é uma das coisas mais divinas que você pode usar. Não a exercite somente no quarto, em casa, nos bares e no gueto. Não deixe a sua expressão amorosa morrer na praia, no trabalho o na sala de jantar da su afamília. Expresse o seu homoerotismo e seja feliz. O mundo agradece.
Fonte: Grrrls: Gatoras Iradas - Vangue Leonel-2001












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